Heráldica

BRASÃO DA IRMANDADE DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA DA PÓVOA DE SANTO ADRIÃO
 
ARMAS

  • Escudo de prata, em chefe seis escudetes de azul semeados com cinco besantes de negro em cruz, rosa com cinco pontas de verde carregada com sete pétalas de vermelho abotoada de ouro, em contra chefe, manto de azul debruado a ouro e forrado de púrpura acompanhado no flanco dextro da cruz de Cristo, e no flanco sinistro da pedra de armas de Santo Adrião;
  • Paquife e virol atado de verde e ouro;
  • Timbre: coroa de rainha de ouro forrada de púrpura;
  • Divisa: num listel de prata, ondulado, sotoposto ao escudo, em letras de negro, maiúsculas, de estilo elzivel «LABOR IMPROBUS OMNIA VINCIT».

SIMBOLOGIA E ALUSÃO DAS PEÇAS

  • Os escudetes semeados de besantes, simboliza os trinta dinheiros de Judas;
  • Rosa de Nª Senhora de cinco pétalas, simbolizam as chagas de Cristo e as sete virtudes da misericórdia;
  • Cruz de Cristo, ordem herdeira da Ordem do Templo por ordenança de El Rei Dom Diniz, esposo da Rainha Santa Isabel;
  • Pedra de armas de Santo Adrião, que se encontra no portal manuelino da Igreja Matriz da Vila da Póvoa de Santo Adrião;
  • Manto simboliza o manto da misericórdia, que protege os desvalidos e carenciados;
  • O Timbre é representado pela coroa da fundadora das misericórdias em Portugal e que se foi espalhando pelo Mundo.

OS ESMALTES SIGNIFICAM

  • OURO: constância;
  • PRATA: amizade, inocência;
  • VERDE: esperança;
  • VERMELHO: magnanimidade;
  • AZUL: nobreza;
  • PÚRPURA: dignidade;
  • NEGRO: prudência.
ESTANDARTE

  • Azul, em que o comprimento é igual a uma largura e meia.

DESCRIÇÃO HISTÓRICO/SIMBOLICA DOS ELEMENTOS DO BRASÃO

  • ESCUDO EM PRATA: a prata é o metal da heráldica menos rico e o que melhor representa a missão das Misericórdias, de discrição e humildade;
  • ESCUDETES EM AZUL COM CINCO BESANTES: os escudetes azuis com besantes são a marca da Portugalidade iniciada com D. Afonso Henriques nos selos reais e perpetuada pelos seus sucessores. D. Afonso Henriques teve uma visão de Jesus Crucificado, antes da batalha de Ourique, e teria recebido instruções para usar no seu selo real e escudos, e nos dos seus sucessores, os escudetes que seriam a confirmação da protecção divina à sua grande obra: “ (…) eu sou o fundador e destruidor dos Reinos e dos Impérios; e quero em ti e nos teus descendentes, fundar para mim um Império, pelo qual seja o meu nome publicado entre as Nações mais estranhas. E para que os teus descendentes conheçam quem lhes dá o Reino comporás o Escudo das tuas Armas do preço com que remi o género humano e daquele por que fui comprado pelos Judeus; e será por mim o Reino santificado, puro na fé e amado pela piedade.» (retirado do Juramento de Ourique, documento cuja autenticidade é criticada, principalmente por Alexandre Herculano, mas cujo conteúdo – o verdadeiro milagre de Ourique – é referido: na Crónica de Portugal (1419); Crónica de D. Afonso Henriques, de Duarte Galvão (1505); Diálogos de Vária História, de Pedro Mariz (1597); Crónicas Reformadas dos Reis de Portugal, de Duarte Nunes Leão (1600); e, Crónica de Ordem de Cister, de frei Bernardo de Brito (1602). O que é facto é que a lenda ficou. Assim, o total de besantes, trinta, representa o sacrifício de Jesus pela salvação dos homens (os trinta dinheiros de Judas). Os escudetes com besantes ainda hoje se encontram na bandeira de Portugal, de acordo com o Decreto nº 150, de 30 de Junho de 1911 e todas as moedas de escudos bem como todas as moedas de euro portuguesas contém a mesma simbologia (nas moedas de euro portuguesas os símbolos da nacionalidade portuguesa fazem frente aos da União Europeia, e os selos de D. Afonso Henriques lembram a independência conseguida por este rei).
  • ROSA COM CINCO PONTAS DE VERDE CARREGADA DE SETE PÉTALAS A VERMELHO: A rosa de cinco pontas verde simboliza as cinco chagas de Cristo bem como a pureza de Nª Senhora, mãe de Jesus, representada pela rosa brava, branca esverdeada de cinco pétalas. As sete pétalas vermelhas representam, igualmente, as sete virtudes (Humildade, Generosidade, Caridade, Calma, Castidade, Temperança e Diligência), as sete obras corporais dos membros das Irmandades da Misericórdia (dar de comer a quem tem fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, dar pousada aos peregrinos, assistir aos enfermos, visitar os presos e enterrar os mortos) e as sete obras espirituais dos membros das Irmandades da Misericórdia (dar bom conselho, ensinar os ignorantes, corrigir os que erram, consolar os tristes, perdoar as injúrias, sofrer com paciência as fraquezas do nosso próximo e rogar a Deus por vivos e defuntos);
  • MANTO: simboliza o manto de Nª Senhora da Misericórdia que protege os desvalidos e carenciados, o manto que dá consolo aos pesarosos. O manto protector de Nª Senhora da Misericórdia está representado em várias obras de arte como: «Nª Senhora da Misericórdia», pintada por Domingos Vieira Serra (Portugal, séc. XVI); imagem de Nª Senhora da Misericórdia na fachada da Igreja de Nª Senhora da Conceição (Lisboa, princípios séc. XVI); Compromisso da Misericórdia de Lisboa, por Pedro Craesbeeck, impresso em MDCXIX;
  • CRUZ DE CRISTO: esta era a cruz da Ordem de Cristo fundada por El Rei Dom Dinis, como herdeira da Ordem do Templo, e com bula papal de 1319. Os seus cavaleiros monges tinham o dever de caridade com o próximo devendo «agasalhar as pessoas da Ordem quando passassem pelas suas casas (…) e aos mais pobres (…) e principalmente aqueles que vivem nas suas freguesias e comendas e devendo fazer-lhes a suas esmolas, conforme as suas possibilidades» (Título XXVI, da Hospitalidade e Esmolas, Primeira parte da Reforma da Regra e Estatutos da Ordem de Cristo, Por Pedro Craesbeeck, ano MDCXXVII). Por outro lado é sabido que a Rainha Santa Isabel, mulher de El Rei Dom Dinis, fazia caridade para com os necessitados: o milagre das rosas esconde a caridade prestada aos pobres ofertando-lhes pão. De referir ainda que a sede da primeira Misericórdia foi mandada construir por Dom Manuel I num edifício que pertencia à Ordem de Cristo;
  • PEDRA DE ARMAS DE SANTO ADRIÃO: a pedra de armas de Santo Adrião está presente no portal manuelino da Igreja Matriz da Póvoa de Santo Adrião. Tem a representação de um maço, instrumento de martírio. Adrião era oficial do exército na Nicodémia (zona da actual Turquia – início do séc. IV) e diz a tradição que tendo ficado impressionado com a coragem de um grupo de cristãos perseguidos declarou-se abertamente cristão dizendo «acrescentai também o meu nome a estes heróis mártires pois também eu me declaro cristão». Depois de ter sido baptizado pelos seus irmãos cristãos foi preso e condenado à morte. Os seus membros foram quebrados, um a um, e foi queimado vivo. Desconhece-se o significado dos quatro grupos de pétalas – quem sabe representem os quatro membros quebrados…;
  • COROA DE RAINHA: a coroa de rainha sobrepõe-se a todos os emblemas e representa a continuação, por muitas Misericórdias, da tradição das Confrarias – Império do Espírito Santo, fundadas pela Rainha Santa Isabel. Mais tarde a rainha D. Leonor, rainha viúva de D. João II, confirmou e continuou a mesma obra das Misericórdias – instituiu uma Irmandade de Invocação a Nossa Senhora da Misericórdia, na Sé de Lisboa;
  • PAQUIFE E VIROL: Paquife e virol verde e amarelo representando as cores do Município de Odivelas. O Amarelo representa o ouro que assinala a presença da realeza (D. Dinis) e o Verde a cor do mundob natural e rural, simbolizando, igualmente, o despertar das águas primordiais e da própria vida;
  • DIVISA: Com paciência e perseverança, tudo se alcança. Esta será uma tradução bastante aproximada de frase em latim «LABOR IMPROBUS OMNIA VINCIT». Esta divisa tem muito a ver com a história da Irmandade da Santa Casa da Misericórdia da Póvoa de Santo Adrião (ISCMPSA): muitas, e de vária ordem, foram as dificuldades encontradas desde a sua fundação, mas a persistência levou-nos a conseguir alcançar os objectivos. Para além disso podemos referir as palavras sábias de Calvin Coolidge: “Nada no mundo consegue tomar o lugar da persistência. O talento não consegue; nada é mais comum que homens fracassados com talento. A inteligência não consegue; a inteligência não recompensada é quase um provérbio. A educação não consegue; o mundo está cheio de errantes educados. A persistência e determinação sozinhas são omnipotentes.” Este deverá ser sempre o lema da ISCMPSA. Todos os que vierem depois de nós deverão ser persistentes para realizar os objectivos e obras desta Irmandade;
  • COR DO ESTANDARTE: O azul traz nobreza de espírito e o aprofundamento das emoções. Representa a doação de amor e a harmonia. É a cor da compaixão, da paz de espírito, da ética, da integridade e da confiança.

Brasão e estandarte desenhados por Rui Manuel Paim das Neves
Descrição histórica/simbólica feita por Gina Maria Prôa Consciência